Solstício de Inverno sob perspectiva Céltica.

witch“A noite mais longa.
Uma mulher está sentada próxima da lareira, enrolada em um cobertor para se proteger do frio, observando as chamas no silêncio de uma sala.
Sua casa está silenciosa ao seu redor, a família dormindo enquanto ela espera. As luzes queimam nas horas mais escuras.
Quando a escuridão profunda começa a diminuir, ela sai, procurando o horizonte.
Um raio de luz aparece, uma lança brilhante atravessa a terra – o inverno está partido… O verão voltará.
Ela sorri, depois volta para dentro, enfia a chaleira no fogo e pula no chuveiro, antes de se dirigir ao trabalho.” (Lora O’Brien)

Iniciei com essa citação quase poética, porque uma druidesa nativa da Irlanda, Lora O’Brien, simplesmente sintetizou o significado do que seja o Solstício de Inverno. Essa é a realidade numa mescla do antigo & moderno daqueles que ainda percorrem os Velhos Caminhos dos Deuses Antigos.

O Solstício de Inverno foi um tempo muito especial e de grande proporção espiritual para diversos povos antigos, inclusive para as diversas tribos do mundo celta, sejam do continente ou das ilhas. Não pretendo aqui entrar em detalhes etimológicos ou toponímicos, no entanto, é sempre interessante delinear algumas formas da milenar Corrente Céltica. Uma delas está aqui nesse artigo.

Vários nomes compõem o universo celta que foram distribuídos em suas sete línguas, bretão, galês, manx, gaélico irlandês e escocês (alguns dizem cimbrico), britônico, cornico e galego-asturiano. Por exemplo, para os escoceses que vivem em algumas regiões das Highlands o Solstício Invernal é denominado Feill-Fionnain, enquanto que para os irlandeses, Grianstad an gheimhridh. Essa variação linguística é muito comum quando se trata dos celtas.

Segundo os celtiberos, estamos no mês de Dumannios (mês escuro), tempo em que se manifesta o Solstício de Inverno. De acordo com o Calendário Arbóreo Celta, baseado no poeta e romancista, Robert Graves em sua obra A Deusa Branca, estamos no 13º mês arbóreo, chamado RUIS (Sabugueiro), a ser o mês das profundezas mais escuras, análogo ao Inconsciente, o que denota profunda introspecção ou mergulho em nossas Sombras, naquilo que diariamente desconhecemos porque exteriorizamos nossos pensamentos, palavras e ações a quase todo instante na correria do dia-a-dia. RUIS tem profunda afinidade com os elementais da natureza que podem nos auxiliar e muito com nossa escuridão pessoal. Também indica um fim de ciclo, de uma jornada porque representa renovação, resiliência e cura. A Estação Vogal é [IO]DHA, que é representada pelo Teixo, a árvore funerária, que magicamente está conectada ao Visco, uma espécie de Estação Extra. Esta última, simboliza o ápice da Escuridão Invernal, o desvelar dos véus internos para alcançar o resplandecente brilho de nossa Essência, eis o que chamamos de O Grande Dia Sem Nome, que tipifica o Inominável, Aquela/e cuja Palavra é o Silêncio. Para o Andarilho que têm ouvidos para ouvir, se torna o Dia da Liberação.

No Ciclo Mitológico da Irlanda, o bardo Amergin Glúingel (aquele dos joelhos brancos) durante esse mergulho em profundo transe, pergunta: “Quem senão eu, conhece o segredo do Dólmen não caído?” Obviamente esse Dólmen não é talhado por mãos humanas, porque o conhecimento primordial não está no plano físico, e sim nos Planos Interiores. Só é alcançado quando o Andarilho estiver pronto.

Um Bardo disse uma vez: “Esse segredo está inscrito em caracteres ogâmicos na Pedra da deusa irlandesa Eriu, uma das três irmãs que nasceram nos tempos antigos quando as Tuatha Dé Danann caminhavam nessas terras. Todavia entre as tribos celtibéricas, é dito haver uma enorme rocha que está cravada no solo sagrado do Mestre Morfessas de Falias. Essa sagrada inscrição deixa invisível para muitos a rocha que a guarda. O que posso lhe dizer é que essa rocha está bem debaixo da pedra angular do dólmen, numa vasta câmara que parece ser muito maior por dentro do que por fora.” E continua.

“Ali os primeiros raios do Solstício de Inverno iluminam as miríades de quartzos incrustados na rocha do Mestre Morfessas que é aquecida durante Æons. Ao mesmo tempo, o dólmen não talhado por mãos humanas vibra em tal intensidade que ao vê-lo diante dos meus olhos que já deixaram a juventude há décadas, parece tremer em todas as suas partes. As bençãos de Morfessas reverbera para todos os seres vivos através dessa  poderosa vibração que surge quando os raios de Endovelicus tocam na enorme rocha. Há também um veio d’água cristalino e gélido que passa lentamente ao redor da rocha. Chamam-na de Águas da Vida que se originam na Fonte do Destino da deusa Nabia, mas se alguém tocar apenas a ponta do dedo, se tornará louco. Essas águas também nutrem a rocha de Falias.”

Isso só confirma que a única forma de conhecer esse segredo do dólmen não caído, que não é desse mundo, é simplesmente interagir com esta rocha. Mas será se isso só pode acontecer no Solstício de Inverno? Com serenidade no seu rosto já envelhecido pelo tempo, ele afirmou calmamente: “Não necessariamente, mas nos Solstícios esse Portais estão mais ativos por causa da dádiva de Endovelicus, permitindo uma passagem por eles mais agradável. Como eu disse antes, a rocha do Mestre Morfessas é continuamente aquecida, desde que os deuses criaram o universo e todas as coisas. Portanto, essa experiência está disponível para aqueles que souberem como encontrar a rocha do Mestre.”

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Deus Ogmios

Lembro que as palavras finais do Bardo foram: “Chegando lá, Ogmios sussurra em nossos ouvidos para lançarmos os caracteres arbóreos que ele mesmo criou. Todos que chegam em frente ao dólmen que não é desse mundo, antes de retornar, tem que lançar os fedha. Ogmios sussurrou que esses fedha formam o código das árvores, uma das linguagens mais antigas e sagradas que existe. A partir daí não posso lhe falar mais nada. Tenha a sua própria experiência, assim faziam os druidas e druidesas no passado, os bardos e vates seguiam o mesmo processo. Boa sorte.”

 

Segue abaixo o caracteres ogâmicos lançados para esse Solstício de Inverno. A duração de suas influências se dará até o Equinócio da Primavera em Setembro.

Ogham

O Tabuleiro do deus Ogmios

 

la_merO forfidh lançado foi a Faia (ae). Ogmios nos dá uma orientação logo de cara nesses meses que se seguirão até o Equinócio da Primavera: Precisamos estar com os pés no chão, cientes das dificuldades que vão se apresentar nos próximos três meses. Muitas crises vão acontecer a nossa volta, mesmo que não estejam ligadas a nós diretamente. Muita confusão coletiva, aborrecimentos e disputas, dúvidas lançadas ainda por fake news, omissões e hipocrisia reinarão nesse período.

Vamos precisar de todo discernimento possível para superarmos o que vem pela frente. Nem todo mundo está preparado para determinadas mudanças que poderão ocorrer repentinamente, no entanto, se iniciarmos um trabalho de precaução, estratégia e coerência, passaremos por esse período turbulento sem nos ferirmos.

Momento tenso no que diz respeito a política, lideranças e a pandemia. MOR é muitas vezes comparado ao mar tempestuoso, cujas vagas enormes afundam qualquer tentativa de navegação, portanto, espere um pouco num lugar bem seguro, a tempestade passar. Ela vai passar. A Faia está profundamente conectada com deus Ogmios, e sua magia está ligada aos atributos dele, como conhecimento, criatividade e perspicácia. Esses são alguns dos ingredientes que teremos de usar no dia-a-dia para lidarmos com os desafios diários. Portanto, pense bastante antes de tomar qualquer decisão, e use o senso de discernimento para tal.

Não é um bom momento para viagens, casamentos ou novas relações ou contratos. Tenhamos paciência para os dias escuros passarem no seu próprio ritmo, assim, não apresse nada. Dias melhores virão.

Palavras chaves: PACIÊNCIA e CRIATIVIDADE.

 

fusainO forfidh lançado foi a Haste que apesar de aparentar fragilidade, sua madeira é bem resistente. Ogmios nos diz através desse arbusto que deveremos trabalhar e desenvolver uma conexão não apenas com as pessoas a nossa volta, mas também com aquelas que estão espalhadas pelo mundo. São pessoas que possuem algum tipo de afinidade espiritual conosco. Ainda que todos pensem diferente, há necessidade nesse período de trabalharmos juntos para um propósito comum. Não importa a distância, porque essa afinidade se dá em planos onde o tempo e o espaço se diluem como açúcar na água.

Provavelmente pelo sensível momento em que todos passamos, se houver algum tipo de contato entre pessoas afins, a energia exercida por elas será de cura e transformação. Isso nos ajudará a transformar algumas coisas importantes em nossas vidas.

Nesses três meses OIR pede para transformar nossa criatividade (dito na Faia) em ações sólidas, com base e discernimento, sic. Quaisquer dúvidas deverão ser sanadas para que alcancemos nossos objetivos. Precisaremos saber lidar com a ansiedade, tensão e medos, pois caso contrário, nossas vidas não andarão para frente.

Sejamos fortes, determinados e estrategistas. O período até o Equinócio Vernal, pede isso.

Palavras chaves: DETERMINAÇÃO e ESTRATÉGIA.

 

Bhuíochas agus beannacht.

Druis Cailiacos Daruogenos – 2020 e.v.

 

 

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